domingo, 16 de outubro de 2011

Era uma vez...

O dia era 17 de junho de 1984, no interior do interior das Minas Gerais, nasceu uma menina. Filha de um casal normal para os padrões da época e do local onde nascera. Uma família enorme que morava na roça. Era uma menina esperta, inteligente, adorava livros, aprendeu a ler aos 5 anos de idade sem nunca ter ido a escola, cheia de sonhos...
Apaixonou-se pela televisão no primeiro instante em que viu uma telinha em preto e branco de formato arredondado. Desde então, seu maior sonho era ser atriz de novelas, mas sabia que aquele sonho era distante demais para uma menina pobre, feia e que vivia no meio do nada...
Mesmo sendo uma garotinha esperta sentia-se sempre rejeitada, o patinho feio, era terrivelmente infeliz. Escondia-se no meio do mato para chorar sem nenhum motivo aparente, nem ela entendia o porquê de tanto sofrimento aos 8, 9 anos de idade. Chorava até soluçar, até os olhos ficarem vermelhos, inchados e ardendo. Ela ficava imaginando alguma tragédia com os pais, um suicídio, um assassinato e sofria por antecipação. Cenas demasiadamente fortes que povoavam uma mente que, pela lógica, deveria ser livre de tais pensamentos.
O tempo foi passando e aquela menina sentia-se cada vez mais distante daquela realidade. Pensava que era adotada, desejava a morte com todas as forças do seu coração, trancava-se dentro de si e o tempo por si só a forçava a acordar todos os dias... Sempre um dia a mais ou um dia a menos, não fazia diferença.
Aos doze anos ela ficou órfã de pai. Assim, repentinamente e uma parte da sua realidade se desfez abruptamente. Não bastasse isso, aos treze anos ficou também órfã de mãe. Aí sim, todo aquele medo que sentia quando criança era justificado.
ela se sentia só, abandonada, esquecida por Deus numa idade tão difícil. Foi forçada a mudar de cidade, a largar todo aquele pequeno Universo ao qual, bem ou mal, era tudo o que ela conhecia e já estava acostumada. Viu-se forçada a se afastar dos poucos amigos que tinha, do primeiro amor, da escola que tanto amava... Era hora de começar tudo de novo. Cidade nova, casa nova, escola nova, novas obrigações e nenhum amigo pra começar. O que tornava tudo ainda mais difícil já que nunca fora popular. Sofreu o que hoje pode se chamar de bulling, foi rejeitada por suas origens, sua ingenuidade, seu sotaque, até por sua "mania" de ser uma excelente aluna em todas as matérias. Mas um dia ela resolveu mudar. Passou a se interessar cada vez menos pelos estudos, começou a cabular aulas, a falar besteiras, a beber, a fumar, a brigar na rua, a não levar desaforo pra casa. Contudo, aprendeu a sorrir... a ser divertida, irônica às vezes, descobriu que ficar de cara amarrada só afastava as pessoas e que ser boazinha era uma coisa absolutamente "do mal". Por mais que se sentisse infeliz, estava sempre com um sorriso no rosto e uma piada na ponta da língua.
À esta altura já não tinha nem metade dos sonhos que tinha antes. Ela não era mais a menina que queria ser aceita, aliás, ela estava pouco se lixando pra isso.
Apaixonou-se algumas vezes, sempre pelos garotos errados e sofreu em todas as vezes.
Muitos anos se passaram, muitas coisas aconteceram e a menina virou mulher, tornou-se mãe, melhorou um pouco, superou alguns obstáculos, estabacou-se em outros, mas levantou-se e continuou andando. Sem sonhos, sem expectativas, com a certeza que nasceu pra ser toda errada e absolutamente só. Acreditando que um verdadeiro amor é privilégio pra poucos e ela, definitivamente, não está incluída nesse grupo.
Depois de tantas histórias interminadas, interrompidas, ela ainda se pergunta: Quando é mesmo que o patinho feio vira cisne? Ainda falta muito para o "e foram felizes para sempre"?

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